quarta-feira, 23 de maio de 2012

EU E AS ESTRELAS - UM -

ROGÉRIO D'ELIA - MODELO E MANEQUIM MAIS FAMOSO DO BRASIL


Nos anos 60, morava com Iaiá minha tia querida, na Mooca.
Da casa dela, saia pelas aventuras em São Paulo.
Um dia, na feira livre da avenida Paes de Barros, vi numa banca de bermudas um  mostruário de roupas.
No mostruário um rapaz maravilhoso chamou-me a a tenção.
Era Rogério!
Peguei o mostruário para mim e passei a recortar dele e de revistas que depois fui encontrando, todas as fotos do famoso manequim.



































Um maravilhoso lobo!
A pelagem do seu corpo todo era perfeita.

Anos de adoração.

Na década de 70, fiquei com meu amigo Elói Simões em São Paulo por vários dias fazendo a cobertura jornalistica das apresentações dos já famosos Dzi Croquettes, recem chegados de Berlim.

Onda da moda.
Elói era um deles.
Ficamos eu e Elói em um edifício ao lado da famosa boate New TomTom.
Eu parecia ser um deles, com meus cabelos longos e meu pique de Star.

Na noite de estréia, no próprio New TomTom, ao lado da pista, eu acompanhava a dança frenética de um dos Dzis, meu favorito.
Cujo pau enorme saia pra fora da fantasia.

Então senti um olhar sobre mim.
Do meio da pista, repleta de figuras da alta sociedade e da fina flor artística da época, alguem me olha e sorri.
Meu Deus!
É ele!
Rógerio, Rogério D'Elia.


Do ardor dos meus sonhos, ele me surgia transfigurado em realidade.
Acena-me, pede licença para a modelo com a qual até então dançava e se dirigi a mim.
Se apresenta.
Ao que respondo: eu sei!
Ele, como os demais também achava que eu era um dos Dzi.

Explico ser jornalista e que envio matérias sobre eles para o meu jornal em Bauru.
Ficamos no papo.
Ele me estendeu a mâo e falou-me que tinha trabalhos para realizar em Bauru.
Algum tempo depois já de retorno, ele veio liderando um grande desfile no Automóvel Club.
Da passarela, me ve.
Sorri, ascena.
Meu coração salta como um pássaro preso.

Ao final, vem ter comigo e pergunta-me se deve vir montar uma casa noturna na cidade.
Assinei em baixo.
O "Fuxico" foi montado na avenida Rodrigues Alves, antes da rua Araujo Leite.
Eu era o parceiro de Rogério.
Fazia entrevistas com ele e frequentava o bar onde se misturavam travestis, bichinhas, drogados, artistas, hippies, artesões, poetas e personas da ilustre sociedade bauruense.
Uma loucura!
Durante o dia, quando de shorts, ele tira a camisa eu enlouqueço com aquela selva de pelos sedosos.
Mas fico firme.
Somos amigos.

O "Fuxico" rapidamente se transforma no BOOM da cidade.
Neste tempo, minha bela amiga Valéria de Carvalho Costa, havia se divorciado do marido após apenas um mês de casamento.
Estava grávida.
Como fazia sempre com toda a gataria que eu conhecia, levo a Val para Rógeiro lá no "Fuxico".
Casou-se com ele.



A mais bela mulher da cidade, para o mais belo ídolo da minha vida.
O "Fuxico" é o assunto da cidade.
E a "tradional família" Bauruense, adoradores da Santa Madre Igreja, entre outros, começam a atacar e exigir o fechamento do "Fuxico".
Fechou!
Rogério foi chamado a delegacia e acusado de mil coisas.
Drogas entre outras tantas.
Ninguem o acompaha em nada.

Eu não saio de seu lado.
Isso só contribui para o aumento de minha imagem de maldito.

Associada agora a degradação moral e uso de drogas.
Defendo o meu idolo adorado até o fim.
Ele e Valéria já não estavam muito bem no relacionamento.
contudo ela foi embora com ele.
Com o nome Valéria D'Elia, ela obtem relativo sucesso nos meios artísticos, como atriz de teatro e filmes.
Tempos depois, vem a notícia:
Numa curva de estrada, entre São Paulo e Rio de Janeiro, num prosaico desastre automobilistico, meu lindo lobo foi embora.
Desta vez para sempre!

terça-feira, 15 de maio de 2012

CANÇÃO DO CEROL

As lasquinhas de vidro cintilam como diamante no longo fio branco, branco. Elas aderem a cola manipulada pelos ágeis dedos de Gaelle.
É que o menino tem pressa!

Ela canta: "parole, parole, parole..."
Ela olha o meninosinho lindo, de olhos tão faiscantes quanto as contas mortais: "Está quase pronto Arcade!"
Ela fala enquanto afaga os cabelos loiros da criança.
Os olhos azuis deles dois tremeluzem.
Ele, alegre, sacode a grande pipa azul, tão azul  quanto teus olhos, azuis!
Argus, o caõzinho negro, saltita contente.
Argus singrandu pos mares de Ades!
Ela canta: "parole, parole.. esta quase pronto filhinho"
Arcade ri casquinante e Argus ladra excitado.
Gaelle pela janela ve os outros meninos e suas pipas.
Estão esperando.
Perto, a avenida ruge como um dragão vomitando veículos envenenados e motoqueiros alucinados.
A mulher olha a criança de seus 5 anos "teria 12 anos", ela fala em voz alta.
O menino ri explendido, "dá mãe, dá mãe"
Apressados!
Ela canta: "parole, parole..."
Ela enfim entrega-lhe a pipa!

O fio brilhante como um enfeite natalino.
O menino e o cachorinho saem aos pulos de alegria.
Juntam-se ao grupo de amigos ruidosos e suas pipas.
Cismadora a mulher respira fundo olhando a foto da criança linda.
Na página do jornal amarelado, diz a manchete: "motoqueiro mata criança e seu cãozinho"
No dia seguinte os jornais noticiam:
"mais três motoqueiros decapitados na avenida"

E a manchete estremece com o tremor das mãos da mulher.


Dos olhos de Gaelle uma furtiva lágrima escorre até sua boca, onde os lábios exibem um sorriso pontiagudo.


E uma vez mais ela canta: "parole, parole...."