As lasquinhas de vidro cintilam como diamante no longo fio branco, branco. Elas aderem a cola manipulada pelos ágeis dedos de Gaelle.
É que o menino tem pressa!
Ela canta: "parole, parole, parole..."
Ela olha o meninosinho lindo, de olhos tão faiscantes quanto as contas mortais: "Está quase pronto Arcade!"
Ela fala enquanto afaga os cabelos loiros da criança.
Os olhos azuis deles dois tremeluzem.
Ele, alegre, sacode a grande pipa azul, tão azul quanto teus olhos, azuis!
Argus, o caõzinho negro, saltita contente.
Argus singrandu pos mares de Ades!
Ela canta: "parole, parole.. esta quase pronto filhinho"
Arcade ri casquinante e Argus ladra excitado.
Gaelle pela janela ve os outros meninos e suas pipas.
Estão esperando.
Perto, a avenida ruge como um dragão vomitando veículos envenenados e motoqueiros alucinados.
A mulher olha a criança de seus 5 anos "teria 12 anos", ela fala em voz alta.
O menino ri explendido, "dá mãe, dá mãe"
Apressados!
Ela canta: "parole, parole..."
Ela enfim entrega-lhe a pipa!
O fio brilhante como um enfeite natalino.
O menino e o cachorinho saem aos pulos de alegria.
Juntam-se ao grupo de amigos ruidosos e suas pipas.
Cismadora a mulher respira fundo olhando a foto da criança linda.
Na página do jornal amarelado, diz a manchete: "motoqueiro mata criança e seu cãozinho"
No dia seguinte os jornais noticiam:
"mais três motoqueiros decapitados na avenida"
E a manchete estremece com o tremor das mãos da mulher.
Dos olhos de Gaelle uma furtiva lágrima escorre até sua boca, onde os lábios exibem um sorriso pontiagudo.
E uma vez mais ela canta: "parole, parole...."
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