MEU AMIGO TONINHO MEIRA FOI EMBORA
Eu nem sabia do enfausto. Estava eu em violento surto,
trancado no poço de Usher há três dias. No domingo, às seis da tarde, foi um
choque, Egas Willian Berbet, primo dele me telefona dizendo: “Esso, nosso primo
Toninho morreu ontem”. O impossível detonou em minha cabeça. Sem atender ao
telefone e a porta por três dias, fiquei sem saber da passagem do amigo. Resta
lembrar, desde os tempos de colégio no Instituto de Educação ele me apoiou.
Nunca se importou com o que a cidade falava de mim. Abriu as portas de sua
casa, de sua família e de seus amigos para que eu compartilhasse. A Sandra, sua
esposa e colega desde o colégio assinava embaixo. Assim como eu, ele amava as
estrelas, os filmes clássicos. Marilyn Monroe é primeira estrela de sua
videoteca. Ele era possuidor de alta cultura. Grande desenhista e artista
plástico e bon vivant. Ele amava a vida e sempre vinha me buscar para os
natais. Para os natais, tirava me da toca para festas, viagens e eventos. Me
mandou buscar em São Paulo para o fazer o Caderno de Domingo do jornal, com
ele. Era muito amigo de minha mãe. Ela o usava como exemplo de vida para mim.
Muito refinado e elegante a ponto de sofrer críticas de minha parte. Ele também
criticava o fato de eu ser brega e alienado. A gente até se entendia na
disparidade. Ele era conservador e eu afrontava todos os limites sociais. Mesmo
assim fomos amigos. Agora partiu e eu nem o vi. Há dez dias, ligou para mim
avisando que ia gravar Casanova de Fellini para minha coleção. Não deu tempo.
Se outra vida existir, ele deve estar de amizade com Marilyn, Marlon Brando,
Beth Davis e outras estrelas. Espero que breve eu possa estar lá também.
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Antonio Carlos Meira e Sandra Sampieri Meira |
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Notícia no JC de 14/07/2014 |
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