quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SALÃO GRENAT - 13/12/2011

SALÃO GRENAT
Ainda Natal....
1949 – Natal na Dutra.
Era o pós guerra e nós sofríamos como todo o povo as dificuldades financeiras. O pai, a mãe, os três filhos dela do primeiro casamento, eu e cinco cachorros, uma gata, quatro galinhas e um galo. Exprimidos em três cômodos de madeira. A privada era uma latrina com buraco no chão. A gente se limpava com jornal e papel de pão. Foi quando a NOB começou sortear casas novas na Vila Dutra, em Curuçá. O homi, oficial graduado em ferrovia, foi sorteado com bela casa de três quartos. E lá fomos nós. Fui o último a sair da casinha velha. Fiquei no quarto com os cães e lembro-me que a natural maldade humana aflorava em mim. Aterrorizava  os cães enquanto esperava o caminhão. Na casa, um cheiro de nova, a grande alegria foi banheiro enorme, com um vaso sanitário dentro de casa! Chegando Natal, a mãe fez milagre. Um frango para seis, macarronada e guaraná. De sobremesa ela preparou pêssegos dourados boiando numa cauda de sonhos. Foi o mais lindo Natal que tive em criança.  Depois viria o terror, é claro.
II – 13/12/2011
Natal no Centro.

Como todo dia, passei mal a tarde toda com a sensação térmica, ardência na cabeça, cegueira, tonturas, náuseas, taquicardia sensação e vontade de morrer. De repente em meio às orações, cessou tudo. Formoso e contente, resolvo ir ver o Natal no Centro. De cara, o ônibus Vista Alegre 2113, ameaça parar e corre de mim. O motorista às gargalhadas. Ele sempre faz isso. Já acostumado com isso, continuei formoso. E fui fotografar as luzes da cidade, os enfeites que achei paupérrimos, defasados. Resta a nossa ilusão. Na Batista, tento encontra o “príncipe do deserto” em sua loja, para uma foto de Natal. Não estava. O chinês segurança de uma loja natalina, parecendo um bandido de filmes de Bruce Lee, quase me agride quando peço para eu me fotografar junto aos enfeites. Prossigo. Na loja de estátuas religiosas da Matriz, vejo uma linda imagem da Madrinha. Peço para a funcionária permissão para a foto.
Permitido, estou a foto quando irrompe um balconista afro-descendente sobre mim agressivo. Assusto e pergunto se ele está muito nervoso e falo para Deus o ajudar. Livre da homofobia, prossigo o percurso de Natal.
 Ainda animado, resolvo comprar enfeitas de R$ 1,99. De cara o segurança todo de preto me olha com aquele olhar.  Arrumei um rabo, pensei. E ele passou a me seguir de setor em setor, oferecendo-me a cestinha. Até me divertia vendo o cara me espreitar numa loja cheia de gente, alguns roubando. Com uma senhora gorda, falo do homem de preto. Ela se irrita e diz pra mim parar de encrenca e sair da loja. Em seguida ela vai ao homem, falando de mim. Me dedurando, hein! Comentei. A gorda horrorosa, de pele ruim, arregala os olhos. O homem de preto me oferece a cestinha de novo. Quase lhe disse onde enfiar a cestinha. Mas apenas lhe disse para encher o saco e saí furioso e no caixa mandei a atendente lhe dizer que mandei um péssimo natal. Com meus enfeitinhos de R$ 1,99, saio arrasado dali chorando.
III – As Primas.

Na década de 60, freqüentava o Teatro Artur de Azevedo na Mooca. Num festival, conheci Rosa Maria, no papel de uma linda boneca. Tempos depois, minha vizinha Ozana Herrera conta que tínhamos uma prima em comum. Era Rosa Maria Maciel, da parte de tio Julite. Homem grande, valente de Mato Grosso, com facão na cintura. Era belo tio Julite, irmão de Iaiá Maciel. Rosa Maria veio à cidade algumas vezes. Identificamos.

Há muito tempo ouvia falar de uma prima atriz. Maria Izabel de Lizandra na certidão Maria Izabel Antunes Maciel que foi junto com Eva Vilma uma das primeiras atrizes na época de “Mulheres de Areia”. Linda! Linda! Eu a já era se fã desde que a vi em um filme nacional. Nas novelas “As Bruxas” ela brilhava intensamente.

Ao descubri-la como parente, enchi-me de orgulho e passeia a alardeá-la. Tivemos contato. Ela é da parte da família de altas patentes militares do Rio Grande do Sul. Ela esteve em Bauru a pedido de uma amiga estrelando o filme “as mulheres querem sempre mais”. Grande alegria de estar com a prima. Reporter e redator do Diário de Bauru, fiz toda a cobertura dos dois meses de filmagem. Apareço em rápida cena de bar. Não pude levá-la em casa por causa do homi, em total fase de fúria. Ainda falarei muito da prima Lizandra, que sempre amei como atriz e pessoa. Ainda é grande orgulho meu nesta vida de merda que vivemos.


Deixo meus votos de Feliz Natal para Bebel e ficaria imensamente feliz se recebesse dela uma mensagem natalina com foto.
Nota: Os produtores de cinema e vídeo poderiam aproveitar ainda o maravilhoso talento de minha prima Lizandra. Seria então um grande Natal.

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