segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SALÃO GRENAT - PODA

A cozinha tem paredes negras por causa do fogão de lenhas e tijolos apodrecidos. As ripas escuras das paredes têm frestas, que parecem muito, muito velhas. O homem agarra violento a mulher franzina que grita com voz pequena.
Tento puxá-lo pela camisa e levo um safanão. Então ele tira afaca da cintura e berra que vai arrancar a orelha dela e pendurar no fumeiro. Diz que vai cortar seu pescoço. Do chão vejo a tesoura de poda na parede. É  grande e de lâminas redondas. Com duas foices cruzadas.
Levanto, apanho o tesourão, abro com esforço e cravo na nuca do homem.
Ele dá um grito pavoroso, ainda segurando o pescoço da mulher. As lâminas enterram na carne, o que me faz forçar o movimento para completar o corte - Olha o barulho "cruuuunch" - é o barulho do osso. E a cabeça cai para tráz resvalando no meu corpo apavorado de doze anos.
O sangue esguiça e molha tudo.
A mulher chorando me abraça e estranhamente calmo lhe digo:
- Ah! mãe! Voce desgraçou a minha vida......

1958
Estou com dezessete anos e desesperado com o horror constante das voltas do home para casa paós ciranda dos botecos. Na noite inteira houve gritarias, correrias, polícia. O pesdelo costumeiro. Sempre tenho que evitar a presença da mãe, no dia seguinte, pois que elétrica de fúria, descarrega em mim os nervos, a frustação de realidade miserável.
A procurar algo no quarto de tralhas, vejo no armário da velha pia algo incrível: uma tesoura de poda; grande, recurva como duas foices cruzadas....

1949
São 18:30hs e volto rápido para a grande e bela estação da NOB.
Portal da Vila Dutra e para o mundo do cinema, do qual já vivo e me deslumbro. Tenho oito anos. E desde os cinco o cinema e as estrelas foram sempre rotas de fuga das misérias humanas que me cercavam. Eu fora levar a comida para um dos filhos da mãe que trabalhando na Cooperativa, no centro. Dalí ele ia para as suas aulas sei lá de que.  Estava alegre pois ia ter festa junina na Vila. As quatro primeiras casas da Alameda Ponta-Porã se reuniam e faziam festejos, fogueiras, bombas e doces juninos.
Na sequência de bares que circundavam a Estação da NOB, encontro o home. E não estava bêbado ainda. A gente se dirige para a praça da Estação quando de um dos bares um rapaz se acerca e falando obsenidades me passa a mão na bunda. O home fica macho e avança para o rapaz que tira do bolso um punhal.
- Vem! Grita o moço. O home se retrai com medo. Em uma fração de tempo em que sinto um frêmito.
-Eu quero que o rapaz atinja, fira e mata o home.
Eu quero, quero e fico fascinado esperando a lâmina cortar aquela cara nojenta. Aquele corpo odiado.
Contudo, o home me puxa pela mão e rápida chegamos ao trenzinho. E às 10 para as 7 da noite leva a gente para a festa.


2011
A Drª Izabel mantem a pequena PEG viva com soro diário há vinte dias.
Visito a Pretinha todo dia. Se ela conseguir comer e beber poderá se salva.
Esperamos um milagre e Jesus de minha madrinha Maria e dos padrinhos dos bichinhos São Francisco e Omulu.


Drª Izabel Garib e César que lutam por minha PEG.

Eu e a PEG na Clinica


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