quarta-feira, 17 de abril de 2013

DE COMO SER MALDITO - 17 de abril de 2013

NO GINÁSIO
Estudei no IEEM (ginásio do Estado). De grátis, mas disputado pelos filhos da elite. De princípio me tornei notório por andar sempre de preto e com guarda-chuva, pelas minha redações, poesias, desenhos e atuações no teatro da escola. Professores abriam exceções para mim. Professor de ciências deu-me redação de português como prova. Teve que dar pra classe toda. Isso aumentava meu carisma e polêmica. Durante a aula de ginástica sofria bulling dos alunos “bem nascidos”. Pulei o muro e fugi para o noturno. Me tornei o rei da noite, o caminho do inferno.
COLÉGIO
O CADERNO NEGRO
Durante o primeiro clássico vivia isolado da maioria. Dois alunos faziam passeios de carro após as aulas. Um padeiro gordo feio, já adulto. Um Loirinho mirrado, míope e sem graça. Me levam pra um passeio numa dessas noites. No caminho os dois só falam da vida alheia, da sexualidade alheia. Explico não me interessar pelo assunto. Homossexuais, lésbicas e putas eram o que eles falavam de outros alunos. Num local ermo a luz dos faróis eles dançam e se abraçam (o padeiro dizia amar o loirinho mirrado). Cansado do ridículo pedi pra ir embora. A maldição começou aí.
Os alunos das três classes passaram a me hostilizar dizendo que eu falava da sexualidade deles. Peço para discutirem entre si sobre quem lhes falou de mim. Eles chegam no loirinho mirrado. Uma das alunas me explica que o menino tinha problema com o pai e a mãe sobre sexo. E era sociopata. Bem, o pessoal fica do meu lado. O casal furioso espalha pela escola inteira que eu falava do sexo de todos os alunos e dos professores também.
Numa reunião em classe, feita pelos alunos, vira tumulto. O casal chora abraçado, vítima. Fico á beira do linchamento. Todos na diretoria. O diretor manda o loirinho calar a boca e impõe um regime de “perímetro proibido” na escola e na vizinhança. Quem viesse acusar seria expulso. Ele me explica saber que o casal era demoníaco e que isso chegou à sala dos professores.
Alunos da época que sabiam da minha inocência, na hora de testemunhar ficavam contra mim poupando o loirinho mirrado e fraco. E contra Esso, todo de negro e guarda-chuva, todo imponente.
O colégio ficou dividido. Pró e contra Esso. Professores e colegas que me conhecem me defendiam. Outros me mandavam recados ameaçadores. O loirinho, cheio de ódio, me falou que iria me destruir. Quase conseguiu. A história se alastrou ampliada pela cidade. Falava-se em carros lotados de moças e rapazes, pelados, fazendo rituais satânicos nos ermos da cidade. E que eu chefiava tudo isso. Professores me maltratavam em classe enquanto o casal chorava abraçado. Professores que me defendiam eram acusados de obscenidades. Fiquei emporcalhado.
Voltei para a manhã. A marca do mal me acompanhando. A diretora me prendia no banheiro. Alunos tinham medo de mim. Alguns continuaram como amigos. Mas essa coisa ruim impediu por anos que eu arrumasse emprego na cidade. Familias me impediam de ter amizades com os filhos. Essa coisa do tal caderno negro me persegue até hoje. Os descendentes do pessoal daquele tempo me perseguem até hoje. Tempos depois o loirinho me conta porque fez isso comigo, o que ele queria de mim.
Nessa época carros me perseguiam e subiam na calçada pra me atropelar. Desconhecidos me agrediam. Telefonemas me assustavam nas madrugadas. Um filme de horror por uma paixão de doentes.
NOTA: Caderno negro foi o nome data pelo loiro sociopata aonde eu registrava todos esses fatos. O caderno foi roubado de mim e houve quem falasse em Caderno Marrom, Amarelo, Vermelho.  Um carnaval de loucuras pra me enlouquecer. Mas eu resisti, até hoje. Deus do meu lado.

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